entro frágil no quarto
despido, e mais frágil
por não te saber lá, no
teu vestido translúcido.

atiro para o chão
os restos corpóreos
e embriago-me nas entranhas
da memória selectiva.

imagino-te solta e no mesmo
riso aluarado, a desnudar
no sítio específico e curvo,
nessa determinação tão tua
de seres mulher por inteiro.



ouço o ranger das portadas antigas
e fecho os olhos.

.......................cheiro-TE e isso excita-TE


sabes-me acordado
mas não ousas a palavra.

eu entro no jogo. (continuo
a desnudar na memória)

.
________________.________________
.

- venda-me os olhos.

... (pausa ofegante)

- agora os teus.

- mas...

- vamos fazer um outro jogo.

...

- agora beija-me como
no cinema mudo.

- vamos desconstruír os sentidos.

- vamo-nos sentindo como se
desconstruíssemos matéria nova.

vendados fomo-nos tocando
na improbabilidade dos sítios.
as mãos para dentro do corpo
e o corpo a roçar o resto.

.

acendemo-nos no estáctico eléctrico
das nossas veias acidentadas,
e no fraquejar disso subimos
prédios antigos de nós e fundimo-los
a uma outra cidade imaginada.

amamo-nos tal qual ao mundo, e o mundo

arrasta-nos para nós tal qual o inverso,

e somos para além disso essencialmente livres.

livros.